segunda-feira, 22 de março de 2010

HOMENAGEM À NEUTON MIRANDA EM 22 DE MARÇO DE 2010, DATA QUE COMPLETARIA 62 ANOS SE ESTIVESSE VIVO.


Nesta data, remeto-me ao recente aniversário de Belém quando NEUTON MIRANDA Superintendente do Patrimônio da União no Pará entregou aos moradores do Guamá dois mil títulos de concessão de uso das chamadas terras de Marinha garantindo moradia aqueles que viviam de forma irregular, um problema que persistia há séculos. Ele planejava entregar aproximadamente 100 mil concessões à população paraense em todo o Estado, até o fim de 2010. Tinha consciência que o tempo era curto para realizar tudo que imaginava, mas não sabia que, ultimava o seu tempo de vida.

No dia 20 de fevereiro Neuton Miranda estava em serviço distribuindo títulos de propriedade de terras a populações ribeirinhas em Belterra, oeste paraense, quando um fulminante ataque cardíaco arrancou vida de seu corpo. Seu desaparecimento físico surpreendeu amigos pelo Brasil afora que lembram o aprendizado, a solidariedade, a alegria, luta e emoção na convivência com o marabaense, filho de Dona Ana e do comerciante Seu Sebastião Miranda. Neuton deixa um grande legado e estará do lado esquerdo do peito, dentro do coração de cada um e cada uma de nós.

Estudante de engenharia em Belo Horizonte na década de 1960 atua na União Nacional dos Estudantes (UNE). Articula as lutas dos estudantes aos protestos contra a ingerência do governo dos Estados Unidos nos processos brasileiros. Reivindica liberdade, democracia e soberania nacional. Preso no Congresso da UNE em Ibiúna, e, logo após, de 1971 a 1973, assume a vice-presidência da última gestão clandestina da gloriosa entidade. Então, já se somava as fileiras do PCdoB.


Perseguido experimentou o exílio em seu próprio país deixando seus familiares apreensivos e entristecidos, devido à falta de convivência com o ente querido. Na clandestinidade seguiu o conselho de seu pai para praticar a lição do peixeinho quatro-olhos (Tralhoto), capaz de ver o inimigo pelo fundo do mar e por cima do ar. Tempos em que a militância colocava a vida por um fio, com decorrentes prisões, notícias de torturas e assassinatos no quadrado das grades. Mas, o filho de Marabá tem gosto de construir vida e estabelece relações conjugais com a historiadora e professora universitária Leila Mourão, da qual união nasce Janaína Mourão Miranda. Cuidam de suas vidas e da militância política. Viveram em Belo Horizonte, Uberlândia e São Paulo.

Com a conquista da Anistia, dá-se início a retomada da normalidade democrática, embora os comunistas estivessem numa semi-clandestinidade, início da “abertura política” em processo. A maioria do Comitê Regional Provisório no Pará numa avaliação equivocada da conjuntura nacional divergia da direção nacional e espalhava que a Ditadura Militar ansiava conhecer os militantes clandestinos que, ao se manifestarem, “cortar suas cabeças”. Esse grupo orientava a política de “fingir-se de morto”. Não difundiam o jornal “Tribuna da Luta Operária”, instrumento de aglutinação dos democratas e fortalecimento das lutas sociais. Desarmavam a luta do povo. Diante disso o CC considerando a experiência de Neuton Miranda desloca o mesmo para junto com Paulo Fonteles e Marcos Panzera, membros em minoria na direção para reorganizar o Partido Comunista do Brasil no Pará. Contavam ainda com Socorro Gomes, Eneida Guimarães e os militantes do Pará que já revelavam o compromisso revolucionário, careciam de comando.

Desde então, Neuton Miranda Sobrinho tem sido dirigente do PCdoB no Estado do Pará.

A incorporação de Neuton na direção do PCdoB tratava-se de fortalecer o partido na capital – centro político do Estado. Sua primeira orientação foi o deslocamento para Belém dos dirigentes que moravam em outros municípios com o objetivo de que os mesmos fizessem parte da cena política no Estado. Às vésperas de um processo eleitoral, a direção indica Neuton Miranda Sobrinho para concorrer ao cargo de vereador de Belém em 1982. Desafio visando angariar votos para o candidato a deputado estadual Paulo Fonteles. Obtivemos resultados positivos: Paulo Fonteles eleito com 13mil votos, e Neuton alcançou à suplência para a Câmara Municipal de Belém.

Em plena campanha de Tancredo Neves para presidência da República em 1984 NMS foi preso, também Marcos Casteli Panzera, o Neco, ambos acusados de organizadores do partido comunista. Última ação provocadora do cambaleante regime militar contra as forças progressistas. E seguimos caminho, conquistamos vaga no Congresso Nacional e na Assembléia Legislativa, na Câmara Municipal de Belém e de municípios importantes no Estado, além de espaços institucionais.

Entre 1992 e 1994 NMS foi deputado estadual pela legenda comunista, com atuação destacada em defesa dos trabalhadores/as, contra a privatização da CVRD e na luta pelo direito de morar. Colocou o mandato parlamentar a serviço da organização do povo em fortalecimento a atuação do seu partido. Foi Presidente da COHAB, na gestão de Almir Gabriel, se desligando em abril de 1996, rompendo publicamente com este, após o Massacre de Eldorado dos Carajás. Foi Secretário Municipal de Habitação, criou essa secretaria no Governo do Povo. Um dos autores, do projeto COMTETO, senão o principal, hoje uma realidade.

Uma vez que as forças democráticas e populares iniciaram um novo ciclo histórico, NMS empenhou o melhor de sua capacidade política e intelectual para assegurar o êxito deste processo ainda em curso, exercendo importante função no governo federal. Como bom comunista, prestes a aceitar a missão aclamada por seus camaradas de concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados organizava a bancada dos pré candidatos a deputado estadual vinculada à sua missão.
Perdemos um grande líder dos movimentos sociais, não foi uma perda apenas para os comunistas brasileiros, sim, um dano para o movimento social no país. Morreu no posto de combate, um exemplo para todos nós! Adalberto Monteiro em “História de uma Castanheira” simboliza a árvore das matas paraenses no filho nascido no ventre do Pará, em Marabá, estudante e atuante político que viveu na clandestinidade no período de resistência ao regime discricionário e militarista de 1964 a 1985. Lamenta quando no momento da colheria vem o infortúnio:

“Um raio fez tombar a castanheira, antes da hora.
Quanto àquela árvore adulta já
Alimentara o mundo!”
A arte na fala do poeta situa o início da redemocratização do país quando NMS, já experiente, retorna à sua terra natal como dirigente partidário para dar curso à organização comunista no Pará. Elenca contribuições de NMS em situações diversas.
Foi deputado, foi candidato a senador,
Mas, o que sempre foi mesmo, foi um lutador.

Canta sobre seus propósitos nas terras paraenses:
(...) lançar as generosas sementes do socialismo.

(...) e mais uma vez repete, finalizando:
“Um raio fez tombar a castanheira, antes da hora.
Mas, presente em nossa memória,
Ela seguirá alimentando nossos sonhos e impulsionando a história.”
Nessa data, que seria o aniversário de Neuton, se vivo estivesse, concluo afirmando que Neuton Miranda militante do Partido Comunista do Brasil há 38 anos, membro do Comitê Central do PCdoB e presidente do CE do Pará será lembrado com muito orgulho pelo povo paraense e brasileiro. Neuton viverá nos corações e mentes dos que lutam pela liberdade e pelo socialismo em nossa pátria. Finalizo, fazendo uso das palavras do Secretário de Estado de Esporte e Lazer, camarada Jorge Luis Guimarães Panzera, na despedida de Neuton Miranda Sobrinho:
“Neuton desapareceu fisicamente, mas deixou um grande legado. Neuton Miranda, presente!”.

Eneida C. Guimarães dos Santos
Secretaria de Formação e Propaganda Belém, 22 de março de 2010.


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