quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

As avaliações feitas pelos agentes americanos só tem um comentário possível: Estão vivendo há 30 anos atrás

Reunimos algumas matérias que tratam de informações "sigilosas" que o Site "WikiLeaks" vazou à jornais e nas redes sociais.

Casa Branca condena WikiLeaks por publicação “negligente e perigosa”

EUA: Brasil oculta terrorismo

Itamaraty prejudica interesses dos EUA no Brasil, diz documento


Os melhores momentos do novo vazamento do Wikileaks

No domingo (28), o ministro das Relações Exteriores da Itália, Franco Frattini, deixou claro o pavor dos governos de todo o mundo diante de mais uma bomba do site Wikileaks. Para Frattini, o vazamento de 251 mil telegramas do serviço diplomático dos Estados Unidos “seria o 11 de Setembro da diplomacia mundial”. Nesta segunda-feira (29), jornais de todo o mundo publicaram detalhes dos telegramas trocados por membros do Departamento de Estado americano e, se a catástrofe prevista por Frattini não se concretizou – pela falta de grandes novidades nos documentos – o vazamento tirou do pedestal o mundo da diplomacia e toda a sua pompa. Os telegramas divulgados até aqui proporcionam saborosas descrições de chefes de Estado, conflitos políticos e negociações entre governos, todas marcadas por percepções ultrasinceras de diplomatas americanos e de seus interlocutores.

O Wikileaks, que em julho e outubro divulgou uma série de documentos secretos sobre os conflitos no Iraque e no Afeganistão, obteve 251.287 telegramas trocados entre Washington e 274 embaixadas e consulados ao redor do mundo. Os primeiros documentos datam de 1966, mas o maior volume é dos últimos três anos. Até esta segunda, apenas 243 telegramas foram publicados, e o assunto mais sensível é o que envolve o programa nuclear do Irã.

O programa nuclear do Irã

Uma das marcas do Oriente Médio é a cisão entre sunitas e xiitas, fonte de ódio e combustível de muitos dos conflitos da região. Nos telegramas, fica claro até onde vai o temor dos países árabes sunitas com a possibilidade de o Irã – persa e xiita – conseguir uma bomba nuclear. Em abril de 2008, o embaixador da Arábia Saudita em Washington, Adel al-Jubeir, diz que o rei Abdullah afirma frequentemente que os EUA deveriam atacar o Irã e “cortar a cabeça da cobra”. Os telegramas mostram outros esforços do governo saudita na questão iraniana, como a oferta feita à China, em janeiro deste ano, de um fornecimento garantido de petróleo se Pequim passasse a pressionar o Irã a desistir das armas nucleares. Outro líder árabe que critica o Irã é Hosni Mubarak, o presidente do Egito. Em fevereiro de 2009, ele afirma não se opor ao diálogo entre Washington e Teerã – o que na época era uma possibilidade real – desde que os diplomatas americanos “não acreditassem em sequer uma palavra do que os iranianos dissessem”. Para o governo da Jordânia, o Irã é “um polvo com tentáculos capazes de manipular” as melhores intenções do Ocidente e dos moderados locais.

Para o governo israelense, a divulgação do Wikileaks foi motivo de regozijo. O fato mais desagradável que os documentos trazem é um plano do Mossad – o serviço secreto de Israel – de apoiar minorias étnicas e grupos oposicionistas no Irã para tentar forçar uma mudança de refim em Teerã. Isso não chega a ser um escândalo, tal é o nível de inimizade entre os dois governos. Para Israel, tornar pública a visão dos governos árabes é uma grande vitória. “Os documentos mostram várias fontes apoiando as alegações de Israel sobre o Irã”, disse o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. “Se os líderes começarem a falar abertamente o que dizem com portas fechadas, poderemos ter avanços reais na busca pela paz”, disse.

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, conhecido por suas teorias tortas, tornou pública mais uma delas nesta segunda. Em entrevista coletiva em Teerã, disse que o Irã “é amigo” dos governos árabes e que os documentos não foram vazados, mas sim se tornaram públicos por obra do governo americano que “busca um objetivo político” com isso.

Embaraço para os Estados Unidos

Para os EUA, além do vexame de ver documentos secretos expostos, pesou a suspeita de que o governo Barack Obama tenta espionar o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e os representantes de China, Rússia, França e Reino Unido no Conselho de Segurança. Segundo o jornal britânico The Guardian, um dos veículos que teve acesso antecipado aos telegramas, o governo dos EUA solicitou dados biométricos dessas pessoas, além de informações como endereços de e-mail e número de cartões de crédito.

Os telegramas mostram também que diplomatas americanos chantagearam governos estrangeiros para tentar fechar a prisão de Guantánamo, em Cuba. Esse foi o caso da Eslovênia, que recebeu o seguinte recado. Se quiser receber uma visita de Barack Obama, receba em seu território um ex-detento de Guantánamo.

Nos EUA, as reações ao vazamento variaram. O partido Republicano radicalizou e Peter King, deputado que pode assumir o Comitê de Segurança Nacional da Câmara dos Representantes, afirmou que o Wikileaks está “envolvido em atividades terroristas”. Para ele, o governo americano deve “ir atrás” dos organizadores do site caso vidas americanas sejam ameaçadas pela divulgação dos documentos.

Eric Holder, o Advogado-Geral (equivalente ao Ministro da Justiça) dos EUA anunciou que os envolvidos serão processados criminalmente e que o vazamento dos documentos poderia colocar em risco a vida de americanos. A fonte do vazamento seria o soldado americano Bradley Manning, preso em maio sob suspeita de ter enviado ao Wikileaks um vídeo no qual militares dos EUA em missão no Iraque matavam 12 pessoas, incluindo dois jornalistas da agência de notícias Reuters confundidos com insurgentes.

Durante a tarde, a secretária de Estado, Hillary Clinton, disse que “lamentava profundamente” os “supostos vazamentos”. Ao mesmo tempo em que suspeitou da veracidade dos documentos, ela afirmou que a visão dos diplomatas não representa a posição da Casa Branca. “Nossa política externa oficial não é definida por meio dessas mensagens, mas aqui em Washington”, disse.

Dilma é citada em telegrama de Brasília

O vazamento dos telegramas afetou também o Brasil, mostrando que a Polícia Federal prende suspeitos de terrorismo em segredo, com medo de que as notícias reflitam “negativamente na orgulhosa e bem-sucedida comunidade árabe no Brasil”. Os documentos deram também uma mostra de como a presidente eleita, Dilma Rousseff, era percebida enquanto ministra-chefe da Casa Civil no governo Lula.

Em um telegrama de novembro de 2008, o enviado americano relata que Dilma bloqueou a aprovação de uma lei para tipificar o crime de terrorismo no Brasil e cita um especialista segundo quem a lei não seria aprovada porque o governo Lula está “cheio de militantes de esquerda que foram alvo, durante a ditadura militar, de leis criadas para reprimir violência motivada pela política”.

Embaixador dos EUA fala em golpe em Honduras

No único telegrama divulgado que envolve Honduras, o então embaixador americano em Tegucigalpa, Hugo Llorens afirma depois da queda de Manuel Zelaya que, ainda que houvesse denúncias de ilegalidades contra ele, a perspectiva da embaixada é que “não há dúvida de que os militares, a Suprema Corte e o Congresso Nacional conspiraram em 28 de junho [de 2009] no que constituiu um ilegal e inconstitucional golpe contra o Executivo”. Mais tarde, apesar desta constatação, assumida publicamente por Barack Obama, a Casa Branca apoiaria a eleição de Porfirio Lobo, em um pleito tachado de ilegal por Zelaya e pelos governos do Brasil e da Venezuela.
A 'enfermeira voluptuosa' do líder líbio

Uma das revelações que fez mais sucesso na primeira leva de documentos é a que mostra as excentricidades de Muammar Kadafi, o líder da Líbia. Em setembro de 2009, Gene A. Cretz, embaixador em Trípoli, relata que Kadafi não gosta de ficar em andares altos, gosta de corridas de cavalo e música flamenca e não consegue viajar sem Galyna Kolotnytska, sua "veterana enfermeira ucraniana" que descrita como uma "loira voluptuosa". Em uma viagem para os EUA, quando Galyna teve problemas com o visto e não pôde embarcar com Kadafi, ele mandou um jato particular buscá-la para que ela o acompanhasse.

Também foram alvo de relatos indiscretos os primeiros-ministros da Itália e da Rússia, Silvio Berlusconi e Vladmir Putin, respectivamente. Segundo os documentos, eles trocariam "presentes generosos", além de "lucrativos contratos de energia". Putin aparece em outro telegrama interessante. Segundo um diplomata americano, ele seria o "cachorro-alfa" na relação com o presidente Dmitry Medvedev, um homem "hesitante" que atua como o "Robin do Batman Putin".

Como fez Hillary Clinton, o ministro do Exterior da Rússia, Sergey Lavrov, tentou minimizar a divulgação dos telegramas. “Claro que isso é interessante de ler, mas na prática política preferimos nos guiar pelas ações concretas de nossos parceiros”, disse. Resta saber se a divulgação sem precedentes desses relatos, que tornaram públicas opiniões antes apenas subentendidas, não vão mesmo ter efeito sobre as relações diplomáticas no mundo.

Fonte: G1

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