sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Wikileaks: Brasil se negou a receber prisioneiros de Guantánamo, revelam documentos vazados

De acordo com três despachos revelados pelo site do Wikileaks, o Brasil rejeitou diversos pedidos dos Estados Unidos para que abrigasse em seu território pessoas detidas na prisão de Guantánamo, localizada em Cuba e administrada pelos norte-americanos. Após ser eleito em 2008, o presidente dos EUA, Barack Obama, prometeu dar um fim à prisão de segurança máxima, onde suspeitos de terrorismo de diversas nacionalidades foram levados desde o início das incursões no Afeganistão e Iraque.

As investidas dos EUA acontecem desde 2005, conforme mostraram os documentos vazados. "O governo do Brasil ainda sustenta que não pode aceitar imigrantes de Guantánamo porque seria ilegal designar como refugiado alguém que não está ainda em solo brasileiro", diz telegrama confidencial de 24 de maio de 2005, assinado pelo então embaixador norte-americano em Brasília, John Danilovich.

Um despacho descreve a tentativa frustrada de conseguir que o Brasil aceitasse como refugiados prisioneiros da etnia muçulmana uigur. Desde 2002, foram presos em Guantánamo 22 uigures - minoria muçulmana de língua turca do noroeste da China. Eles não podiam voltar à China pelo risco de serem mortos ou torturados. Segundo dados oficiais de 2007, os uigures são mais de 10 milhões, constituindo a maior minoria da região de Xinjiang – cerca de 50% da população.

Em Brasília, a embaixada falou com Márcia Ramos, do departamento de direitos humanos do MRE (Ministério de Relações Exteriores). “Ramos disse ao nosso assessor político que o governo brasileiro não pode aceitar imigrantes de Guantánamo porque é ilegal designar como refugiado alguém que não está em solo brasileiro. De acordo com o CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados), o status de refugiado no Brasil para quem pede do exterior geralmente não é atendido até que ele receba status de refugiado no país onde está (no caso, os EUA)”, explica o documento.

Neste documento os EUA diziam que estavam se dispondo a pagar para que agentes do governo brasileiro viajassem a Cuba e cuidassem dos processos de concessão de refúgio.

De acordo com o jornal, em 30 de outubro de 2009, um telegrama relatou novamente a investida dos EUA. Ao checar com funcionários do Itamaraty como estava a demanda, a diplomacia norte-americana relatou que "não houve reação positiva do governo brasileiro".

"Recompensa"

Conforme mostraram outros documentos vazados pelo Wikileaks, os EUA ofereceram “recompensas” a diversos países em troca do abrigo a presos de Guantánamo. Em um dos despachos, o governo da Eslovênia era avisado que, caso quisesse uma visita de Obama, deveria abrigar ao menos um prisioneiro. Já a ilha de Kiribati, no Pacífico, foi avisada que receberia "milhares de dólares" se recebesse presos chineses acusados de promover práticas terroristas.

Em outro caso, o fato de aceitar mais prisioneiros era apontado como uma forma "barata" para a Bélgica adquirir "projeção" na Europa, afirma um dos "cabos" revelados pelo Wikileaks.


Fonte: Opera Mundi

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