segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Carta aberta vinda da Gaza sitiada: Dois anos após o massacre, uma exigência de justiça





Gaza sitiada, Palestina — Nós os palestinos da Faixa Sitiada de Gaza, neste dia, dois anos após o ataque genocida de Israel às nossas famílias, nossas casas, estradas, fábricas e escolas, estamos a dizer: basta de inacção, chega de discussão, chega de esperar – este é o momento para responsabilizar Israel pelos seus crimes permanentes contra nós.

Em 27 de Dezembro de 2008, Israel principiou um bombardeamento indiscriminado da Faixa de Gaza. O assalto perdurou durante 22 dias, matando 1417 palestinos, 352 dos quais crianças, segundo importantes Organizações de Direitos Humanos.

Durante estarrecedoras 528 horas, as forças de ocupação de Israel lançaram a partir dos seus F15s e F16 fornecidos pelos EUA e dos seus tanques Merkava, munições internacionalmente proibidas de fósforo branco, além de bombardear e invadir o pequeno enclave costeiro palestino que é o lar de 1,5 milhão de pessoas, das quais 800 mil são crianças e mais de 80 por cento refugiados registados pela ONU. Cerca de 5300 estão permanentemente lesionados.

Esta devastação excedeu em selvajaria todos os massacres sofridos anteriormente por Gaza, tais como as 21 crianças mortas em Jabalia em Março de 2008 ou os 19 civis mortos quando abrigados nas suas casas no Massacre de Bei Hanoun de 2006. A carnificina excedeu mesmo os ataques de Novembro de 1956 nos quais tropas israelenses agruparam e mataram 275 palestinos na cidade sulista de Khan Younis e mais 111 em Rafah.

Desde o massacre de Gaza de 2009, cidadãos do mundo tomaram a responsabilidade de pressionar Israel a cumprir com o direito internacional, através de uma estratégia de boicote, desinvestimento e sanções (BDS). Tal como no movimento BDS global que foi tão efectivo para terminar o regime do apartheid sul-africano, instamos as pessoas com consciência a aderirem ao apelo ao BDS feito em 2005 por mais de 170 organizações palestinas.

Tal como na África do Sul, o desequilíbrio de poder e representação nesta luta pode ser contra-balançado por um poderoso movimento internacional de solidariedade com o BDS, obrigando decisores políticos israelenses a prestar contas, algo que a comunidade governante internacional tem reiteradamente fracassado em fazer.

Analogamente, esforços civis criativos tais como os navios Free Gaza que romperam o sítio cinco vezes, a Marcha pela Libertação de Gaza, a Frota pela Liberdade Gaza e muitos comboios por terra nunca devem cessar a sua ruptura do cerca, destacando a desumanidade de manter 1,5 milhão de habitantes de Gaza numa prisão ao ar livre.

Já se passaram dois anos desde os mais graves actos genocidas de Israel, que deveriam ter desfeito quaisquer dúvidas sobre a dimensão brutal dos planos de Israel para os palestinos. O assalto naval assassino a activistas internacionais a bordo da Frota da Libertação de Gaza, no Mar Mediterrâneo, mostrou ao mundo o pouco valor que Israel atribui desde há muito à vida palestina. O mundo agora sabe, mas dois anos depois nada mudou para os palestinos.

Nós, portanto, apelamos à comunidade internacional para assumir a sua responsabilidade de proteger o povo palestino da odiosa agressão israelense, terminando imediatamente o sítio com plena compensação pela destruição das nossas vidas e infraestruturas por esta política explícita de punição colectiva.

Não há nada que justifique as políticas intencionais de selvajaria, incluindo o corte de acesso ao abastecimento de água e electricidade a 1,5 milhão de pessoas. A conspiração internacional de silêncio quanto à guerra genocida que está a ter lugar contra mais de 1,5 milhão de civis em Gaza indica cumplicidade nestes crimes de guerra.
27 de dezembro de 2010

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