quinta-feira, 14 de abril de 2011

China foi mais efetiva que EUA em acordos com o Brasil

Para analistas, asiáticos querem consolidar já parceria com o Brasil; reaproximação com os EUA pode render frutos no longo prazo

A viagem da presidenta Dilma Rousseff à China resultou em um saldo mais positivo em termos econômicos ao Brasil do que o recente encontro com o presidente dos Estados Unidos Barack Obama. Enquanto nas reuniões com o mandatário americano as conversas ficaram mais no campo das intenções para, no futuro, ser desenvolvida uma pauta de negócios mais efetiva, as conversas bilaterais com o presidente chinês, Hu Jintao, e o primeiro-ministro do país asiático, Wen Jiabao, se configuraram em diversos acordos assinados na área comercial e anúncios de investimentos no Brasil nas áreas de tecnologia e infraestrutra.

Na avaliação de especialistas, esse cenário, com resultados distintos após encontros com os mandatários das duas principais potências econômicas do mundo, pontua claramente os diferentes objetivos que os dois países têm nas relações com o Brasil e o momento vivido por cada um deles.

A China apresenta há anos um forte crescimento econômico e tem necessidades mais imediatas de produtos básicos para sustentar sua expansão e o Brasil é um país chave nessa equação. “Além disso, o país asiático tem cerca de US$ 3 trilhões em reservas internacionais e vê no Brasil um parceiro estratégico para investir e fortalecer seu potencial econômico”, diz o economista especializado em comércio internacional, Rafael Bistafa, da consultoria Rosenberg & Associados.

Já com relação aos Estados Unidos, o presidente americano reconheceu e reafirmou em várias ocasiões a crescente influência do Brasil no cenário mundial, mas primeiro é necessário destravar o relacionamento comercial, que ficou estremecido após uma maior aproximação do Brasil com nações do Oriente Médio como o Irã. “Os Estados Unidos querem o Brasil como parceiro, mas, diferentemente da China, têm uma estratégia mais de longo prazo, com uma pauta bastante focada na área de energia, com destaque para o setor de petróleo e a exploração do pré-sal”, avalia Emerson Marçal, coordenador de Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP-FGV).

Para Flávio Serrano, economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, o Brasil tem a chance de equilibrar a pauta comercial com a China e ampliar a exportação de produtos com maior valor agregado. “A China passou a ser nosso principal mercado e a relação entre os dois países emergentes pode se dar de maneira mais ágil com avanços da questão comercial do que com a maior economia do mundo que são os Estados Unidos “, diz.

Investimentos bilionários no Brasil

Entre os principais destaques da viagem da presidenta Dilma à China estão o anúncio de investimentos de R$ 20 bilhões da Foxconn, empresa asiática que atua na montagem de produtos eletrônicos para marcas como Apple e Sony, na produção de telas para leitores eletrônicos como o iPad e celulares, aportes de US$ 600 milhões em centros de desenvolvimento patrocinados pelas duas principais companhias chinesas de tecnologia em telecomunicações, Hawuei (US$ 350 milhões) e ZTE (US$ 250 milhões), além da ampliação dos negócios da Embraer na China, com a fabricação de jatos Legacy na unidade de Harbin, e a venda de 25 aviões E-190.
Ao todo, já foram vendidos neste ano à China 35 aviões E-190, sendo 20 aeronaves para a empresa China Southern e outros 15 para a companhia Hebei em uma operação de cerca de US$ 1,4 bilhão.

Além de acordos pontuais nas áreas de inovação, recursos hídricos, agricultura, educação e esportes, o Brasil reafirmou o compromisso de reconhecer a China como economia de mercado. Por outro lado, a China informou que vai incentivar o aumento das importações de produtos de alto valor agregado do Brasil.

Cooperação com os EUA

Durante a visita do presidente americano Barack Obama ao Brasil no mês passado, representantes dos dois países assinaram dez acordos e tratados de cooperação concentrando-se nas áreas comércio exterior, eventos esportivos, energia e educação.

No âmbito econômico o principal acordo assinado foi o de comércio e cooperação com o objetivo de equilibrar a compra e venda de bens e serviços entre os dois países.

Os EUA já foram o principal parceiro comercial do Brasil e atualmente são o segundo principal destino das exportações brasileiras, atrás da China. O Brasil é o oitavo destino das exportações americanas. Em 2010, o déficit brasileiro nas relações comerciais com os EUA cresceu cerca de 75%, de US$ 4,430 bilhões em 2009 para US$ 7,731 bilhões no ano passado.

Outros acordos assinados contemplam a expansão do espaço aéreo entre os dois territórios, somando mais voos até 2015, a participação dos EUA na organização da Copa de 2014 e nas Olimpíadas de 2016 e a ampliação do intercâmbio de estudantes brasileiros e americanos em universidades dos dois países. (IG)

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