segunda-feira, 6 de junho de 2011

A mídia democrática e revolucionária da Venezuela - final

FRENTES DE LUTA

A democratização da comunicação abriu espaço para criadores e comunicadores de várias áreas. O Coletivo Célula, formado por jovens de classe média, produz audiovisuais e reúne poetas, cineastas, escritores, redatores e videomakers em projetos autorais. Uma lei da revolução obriga os canais públicos e privados a exibirem a produção nacional independente. Os canais privados acharam a brecha: criaram produtoras “independentes”, das quais são eles os donos. Já os canais públicos geraram oportunidades inéditas aos produtores de todo o país. No Célula, os projetos são orçados e apresentados aos canais de TV. A produção pode ser feita pelo coletivo ou em regime de co-produção. Até o momento, o principal parceiro é a VTV.

Na mesma linha atua o Ejército Comunicacional de Liberacion. Formado por designers e artistas plásticos que, graças a um contrato com a prefeitura de Caracas, se dedicam exclusivamente ao projeto, acaba de lançar a revista (Chumbo), com inovador projeto gráfico mesclando fotos e ilustrações em conteúdos altamente políticos e politizados. Além da publicação, atua na formação cultural de comunidades carentes e conduzem um programa na Rádio Nacional. Estão editando o livro Mural e Luzes sobre os murais que vimos espalhados por toda a Caracas.

Mas de todas as iniciativas visitadas pela reportagem, nenhuma nos surpreendeu tanto quanto a Disciplina Livre de Comunicação Popular, na Academia Militar. A idéia surgiu quando o Ten. Cel. Menry Fernandez conheceu o jornal alternativo De Pana, realizado por um coletivo de jornalistas, dentre eles o brasileiro Leonardo Fernandes e o casal de colombianos Consuelo Alvarez e Carlos Acosta. Menry os convidou a criar, em conjunto com os cadetes, o jornal O Jovem Patriota. O sucesso do jornal os levou a um passo ousado: os três jornalistas foram convidados a ministrar a nova disciplina, dentro da Academia. Desde o golpe de 2002, o exército percebeu a necessidade de estreitar os laços com a população civil, orientação que é fruto de quase dez anos de reestruturação da doutrina antes conservadora das Forças Armadas formadas na “Guerra Fria”.

Somente num país como a Venezuela, empenhado num processo realmente revolucionário, é possível um casal de jovens colombianos e um jovem brasileiro lecionarem comunicação popular para militares do exército nacional.
(Leo Drumond e Luciana Lanza são jornalistas.)

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