sexta-feira, 3 de junho de 2011

A midia revolucionária e democrática da Venezuela - continuação

JORNAL GRATUITO

Na Praça Bolívar, coração da capital, fica a sede do jornal impresso Ciudad Caracas. Criado em 2009 com tiragem de 70.000 exemplares e distribuição gratuita, aposta num belo projeto gráfico e na linguagem simples para falar com o seu público. Quem nos recebeu foi a jornalista Maria Cristina Martinez, uma entre os mais de quatro milhões de colombianos que vivem na Venezuela. Ela nos contou que não poderia exercer sua profissão com segurança em seu país de origem. Maria se formou na UBV (Universidade Bolivariana da Venezuela), criada por Hugo Chávez como alternativa à tradicional UVC (Universidade Central da Venezuela), e reflete a postura do jornalismo revolucionário: “ Os meios de comunicação tem uma dívida histórica com a sociedade”.

Ciudad Caracas busca uma nova forma de tratar e mostrar o povo que vive em barrios, o correspondente venezuelano das nossas favelas. Como as nossas grandes cidades, Caracas é tomada pelos Barrios, e, tal como aqui, rola um forte preconceito das classes médias e altas (fomentadas pelas mídias privadas) em relação a seus habitantes, sempre associados à marginalidade. Assim como o Ciudad Caracas, os novos meios de comunicação criados pela revolução preocupam-se em lançar luzes a essas pessoas que são a grande maioria da população venezuelana.

Além dos veículos visitados pela reportagem, se somam outros que o tempo curto não nos permitiu conhecer in loco. São exemplos o canal Alba TV, criado em 2007 para ser um canal comunitário internacional, de debate político, articulação e integração entre os movimentos sociais da América Latina, e o jornal impresso Correio Del Orinoco, recém inaugurado em 2009, como refundação atualizada do histórico jornal de mesmo nome que foi editado por Simon Bolívar no século 19. Possui, como o de Bolívar, versão em inglês, embora circule apenas na Venezuela.

Afora os novos veículos, a estrutura de comunicação pública herdada pela revolução foi reestruturada e ampliada. A estatal VTV é hoje a emissora mais bem equipada do país, tem programas de grande audiência e é a responsável pela programação oficial da revolução. O canal foi fechado à força pelos golpistas de 2002, os mesmos que hoje reclamam da falta de “liberdade de expressão” no país.

COMUNICAÇÃO POPULAR

Em julho de 2000, o presidente Chávez participava da inauguração de um ambulatório quando uma jovem, segurando um microfone rústico, pede sua opinião sobre os meios de comunicação comunitários. “Bom, é maravilhoso! Vocês estão adiantados; são a vanguarda da comunicação.” Na sequência, Chávez ordena a um vice-ministro providenciar toda a ajuda necessária àquele pessoal. Poucos meses depois, Chávez em pessoa, participaria da inauguração de uma renovada Catia TVe. E colheu os frutos: no fracassado golpe de 2002, foram os meios comunitários, liderados por Catia TVe, que informavam a resistência popular, rompendo o blackout comunicacional dos meios privados para ocultar e facilitar o golpe.

“Não veja televisão; faça!”, é o seu lema. Criada clandestinamente em 1989 e legalizada em 2001, começou como centro cultural, com trabalhos de teatro e música e o hoje histórico Cineclub El Manicomio, exibindo bons filmes nacionais nas paredes e muros do barrio. A necessidade de dar voz ao povo transformou a ação inicial na proposta revolucionária de filmar a própria comunidade, as festas da escola, o movimento dos bares, os jogos de beisebol, os problemas de moradia, saúde, etc. e depois editar e exibir o conteúdo. O apoio do governo tornou Catia TVe uma das iniciativas comunicacionais mais importantes da história da Venezuela.

Catia TVe – Trincheira de Luta da Revolução – oferece cursos de técnicas e produção audiovisual gratuitos, ou melhor, “em troca de café e açúcar”. E é lá que se formam os profissionais dos novos canais públicos, como o presidente da Avila TV, Wladimir Sosa, e o diretor de programação da Vive, Gabriel Gil.

A Rádio Senderos de Antímano completou 10 anos, e foi também uma das vozes confiáveis sobre os fatos de 2002. É uma das poucas que não foi fechada pelos golpistas. Hoje, com equipe de 15 pessoas, funciona numa escola pública no bairro de mesmo nome. Quando estivemos lá, a escola estava ocupada por desabrigados pelas chuvas. A rádio tem perfil variado, com muita música Joropó, ritmo popular e típico do país. Todo o equipamento foi doado pelo governo. O radialista nos informa que o veículo sobrevive de verbas públicas e publicidade de pequenos comércios. E que tem gente de várias orientações políticas trabalhando lá: “o importante é se comunicar”.

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