terça-feira, 23 de agosto de 2011

EUA tentam roubar US$1,5 bi para pagar rebeldes líbios

Na terça-feira, 9 de agosto de 2011, Sana Khan - secretária do Comitê de Sanções criado em virtude da resolução 1970 do Conselho de Segurança da ONU - transmitiu aos membros do comitê um aviso emitida pela embaixadora Susan Rice, representante permanente dos Estados Unidos na ONU.

Por Thierry Meyssan


Cada míssil Tomahawk lançado na Libia pelos EUA custa US$ 1milhão
Nesse comunicado, do qual a Rede Voltaire conseguiu obter uma cópia, Washington informa ao Comitê sobre a sua intenção de descongelar 1,5 bilhões de dólares pertencentes ao Banco Central da Líbia, à Autoridade Líbia de Investimentos, ao Banco Exterior da Líbia, à Carteira de Investimentos na África e à Companhia Nacional Líbia de Petróleo.

Afirmando que o descongelamento é legal quando se trata de fundos destinados a fins humanitários ou civis (artigo 10 da Resolução 1970 [1]), Washington anuncia sua intenção unilateral de distribuir a mencionada soma da seguinte forma:
- 500 milhões de dólares para organizações humanitárias escolhidas [pelos EUA] "para responder às atuais necessidades humanitárias e a outras que sejam possíveis de antecipar, conforme o chamado das Nações Unidas e suas atualizações previsíveis";

- 500 milhões de dólares para "empresas de fornecimento de combustível e de bens humanitários necessários";

- 500 milhões de dólares para o Temporary Financial Mechanism (TFM) para "pagar os salários e gastos de funcionamento dos funcionários líbios, gastos em alimentação, eletricidade e outras compras humanitárias." Deste último montante, 100 milhões de dólares serão destinados mais às necessidades humanitárias dos líbios sob controle do Conselho Nacional de Transição (CNT), quando este último tenha estabelecido "um mecanismo crível, transparente e eficaz" para fazer com que cheguem até eles.


Falando claramente, os Estados Unidos anunciaram ao Comitê de Sanções sua intenção de apoderar-se de 1,5 bilhão de dólares e de entregar um terço desta quantia a seus próprios serviços humanitários (USAID), um terço a suas próprias empresas multinacionais (Exxon, Halliburton, etc.) e o último terço ao TFM, um escritório do LIEM, que nada mais é que um órgão não-oficial criado por Washington e aprovado pelo Grupo de Contato para administrar a Líbia [2].

Washington também fez saber que consideraria que contava com a aprovação tácita do Comitê de Sanções no prazo de 5 dias de seu recebimento pela comissão.

Infelizmente, não fazendo parte do Comitê, a Líbia não tinha como se opor ao roubo. Na verdade, o embaixador da Líbia na ONU desertou desde o início e - em violação aos compromissos contidos no Acordo de Sede das Nações Unidas, assinado pelos Estados Unidos-, o Departamento de Estado ainda não concedeu um visto para o novo embaixador da Líbia .

Washington esperava aproveitar a ausência, forçosa, para apoderar-se dos despojos. Por sua vez, a França abriu uma brecha ao roubar 128 milhões de dólares, nas mesmas condições.

Foi, finalmente, o representante permanente da África do Sul, o embaixador Baso Sangqu, que bloqueou a jogada.

Além de destacar a voracidade dos Estados Unidos, este episódio inédito confirma que não é o Conselho Nacional de Transição quem governa a auto-proclamada "Líbia livre" a partir de Benghazi e Misurata. Este Conselho não é mais que uma fachada, por certo bastante rachada. A Líbia oriental, sob controle da Otan, está sendo administrado pelo Libyan Information Exchange Mechanism (Liem), um órgão informal, sem personalidade jurídica, criado em Nápoles unicamente pelos Estados Unidos, embora tenha alguns funcionários italianos.

Os recursos apresentados como somas entregues ao Conselho Nacional de Transição, na verdade, passam para as mãos de Liem, que os utiliza para pagar salários aos membros do dito conselho e seus próprios funcionários, bem como aos funcionários do conselho. A diferença é, portanto, enorme, já que o Conselho Nacional de Transição não tem uma política própria, mas se limita a implementar a política dos Estados Unidos. Isto não tem nada de surpreendente para aqueles que sabem que o CNT não surgiu como resultado dos acontecimentos em Benghazi, mas há vários anos, em Londres, como um governo provisório no exílio.

Portanto, o verdadeiro objetivo da ação militar dos Estados Unidos e seus aliados da Otan e do Conselho de Cooperação do Golfo não é assegurar a proteção de civis, como estipulado na resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU, muito menos "libertação dos líbios", mas a colonização do país.


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