quinta-feira, 29 de março de 2012

Há 44 anos Edson Luís era assassinado pela ditadura


1968, restaurante estudantil Calabouço 
Há 44 anos Edson Luís era assassinado pela ditadura
Em 28 de março de 1968 a ditadura militar assassinava o estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto, paraense de 18 anos, no restaurante estudantil Calabouço, no Rio de Janeiro. O episódio marcou a resistência estudantil contra o regime militar que iria se aprofundar naquele ano até o decreto do AI-5, que endureceu ainda mais a repressão.
Edson Luís de Lima Souto nasceu em Belém do Pará em 1950. Filho de uma lavadeira mudou-se para o Rio de Janeiro para fazer o Segundo Grau supletivo no Instituto Cooperativo de Ensino. Como muitos, pensava em seguir os estudos para engenharia e melhorar a vida da família.
O Instituto Cooperativo de Ensino situava-se em um anexo do restaurante Calabouço e era chamado pelos militares de "Instituto Comunista de Ensino". Ali estudavam jovens mais pobres, como o próprio Edson, que se alimentavam no restaurante, com preços mais baixos, sendo que muitos trabalhavam também no local.
O restaurante era palco de protestos contra a má qualidade da refeição servida pelo governo e pela conclusão das obras do local, por isso o Calabouço era visto pelo regime militar como um foco de agitação estudantil. Quem liderava os protestos era a Frente Unida dos Estudantes do Calabouço (Fuec). Não demorou muito para se tornar o local de organização de manifestações contra a ditadura.

À queima roupa

No dia 28 de março, os estudantes estavam organizando uma passeata relâmpago para protestar contra o alto preço da comida servida no Calabouço. A Polícia Militar, que outras vezes já havia reprimido os estudantes no local, chegou ao restaurante. A primeira investida da polícia conseguiu dispersar os cerca de 600 manifestantes, que se abrigaram dentro do Calabouço. Porém, os estudantes reagiram com paus e pedras, o que fez a polícia recuar.
Os policiais voltaram com maior violência, dessa vez atirando contra os estudantes e invadiram o restaurante. Na invasão cinco estudantes ficaram feridos e dois foram mortos pela polícia. Um foi Benedito Frazão Dutra, que morreu no hospital, o outro foi Edson, que levou um tiro covarde no peito à queima-roupa de uma arma calibre 45.
Os companheiros de Edson não permitiram que a PM levasse o corpo do estudante com medo de que sumisse com ele. Os estudantes, então, partiram em passeata até a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, onde foi velado o corpo. O velório foi cercado pela PM e agentes do DOPS que provocavam os manifestantes com bombas de gás.
No dia do enterro, 50 mil pessoas saíram às ruas para protestar contra a repressão do regime militar. A palavra de ordem que se espalhou em faixas, cartazes e na boca dos manifestantes era "Mataram um estudante. Podia ser seu filho!". Os militares, sem condições de reprimir a manifestação, tentaram escondê-la. As luzes da cidade não foram acesas naquele fim de tarde, mas mesmo assim os motoristas acendiam os faróis dos carros, comerciantes davam velas e lanternas para a população continuar o cortejo.
A camisa manchada com o sangue de Edson tornou-se o símbolo da repressão e foi carregada pelos estudantes.
Na semana que separou o enterro da missa de sétimo dia de Edson, manifestações foram organizadas em todo o país. Em São Paulo, quatro mil estudantes fizeram uma manifestação na Faculdade de Medicina da USP. Em Goiás e no Distrito Federal, estudantes foram baleados em protestos, sendo que dois foram mortos.
Na missa, que aconteceu na manhã do dia 4 de abril na Igreja da Candelária, as pessoas que lotaram a igreja foram reprimidas com violência pela cavalaria da polícia com golpes de sabre quando saíam. Dezenas de pessoas ficaram feridas. Outra missa estava marcada para o mesmo dia à noite. O governo proibiu sua realização, mas mesmo assim insistiu-se em fazê-la pelo vigário-geral do Rio de Janeiro, D. Castro Pinto.

A morte de Edson Luís foi um dos  marcos da radicalização da luta contra os militares que tomou conta do ano de 1968. Em junho, ocorreu a passeata dos cem mil no Rio de Janeiro, que lotou o centro da cidade.
As mobilizações contra o regime militar foram tomando proporções cada vez mais radicais, assim como a repressão foi se intensificando. Até que, em 13 de dezembro, foi decretado o Ato Institucional no 5 (AI-5), endurecendo o regime, como única maneira de controlar a situação.
O ano de 1968 foi revolucionário no mundo todo, marcado pelas revoltas estudantis e da luta contra a ditadura apoiada pelos EUA no Brasil e nos outros países da América Latina. As burguesias latino-americanas, financiadas pelo imperialismo, lançaram mão de ditaduras com características fascistas para reprimir e esmagar as mobilizações estudantis e operárias que se multiplicavam.

E  ate hoje EDSON LUIS vive na luta do movimento estudantil como o símbolo de mobilização da juventude brasileira pela garantia de direitos e a soberania nacional.


Redação: ALINE SÂMIA E CLEITON COSTA .

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