1968, restaurante estudantil Calabouço
Há 44 anos Edson Luís era assassinado pela ditadura
Há 44 anos Edson Luís era assassinado pela ditadura
Em 28 de março de 1968 a ditadura militar
assassinava o estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto, paraense de 18
anos, no restaurante estudantil Calabouço, no Rio de Janeiro. O episódio marcou
a resistência estudantil contra o regime militar que iria se aprofundar naquele
ano até o decreto do AI-5, que endureceu ainda mais a repressão.
Edson Luís de Lima Souto nasceu em Belém do
Pará em 1950. Filho de uma lavadeira mudou-se para o Rio de Janeiro para fazer
o Segundo Grau supletivo no Instituto Cooperativo de Ensino. Como muitos,
pensava em seguir os estudos para engenharia e melhorar a vida da família.
O Instituto Cooperativo de Ensino
situava-se em um anexo do restaurante Calabouço e era chamado pelos militares
de "Instituto Comunista de Ensino". Ali estudavam jovens mais pobres,
como o próprio Edson, que se alimentavam no restaurante, com preços mais
baixos, sendo que muitos trabalhavam também no local.
O restaurante era palco de protestos contra a má qualidade da refeição
servida pelo governo e pela conclusão das obras do local, por isso o Calabouço
era visto pelo regime militar como um foco de agitação estudantil. Quem
liderava os protestos era a Frente Unida dos Estudantes do Calabouço (Fuec).
Não demorou muito para se tornar o local de organização de manifestações contra
a ditadura.
À
queima roupa
No dia 28 de março, os estudantes estavam
organizando uma passeata relâmpago para protestar contra o alto preço da comida
servida no Calabouço. A Polícia Militar, que outras vezes já havia reprimido os
estudantes no local, chegou ao restaurante. A primeira investida da polícia
conseguiu dispersar os cerca de 600 manifestantes, que se abrigaram dentro do
Calabouço. Porém, os estudantes reagiram com paus e pedras, o que fez a polícia
recuar.
Os policiais voltaram
com maior violência, dessa vez atirando contra os estudantes e invadiram o
restaurante. Na invasão cinco estudantes ficaram feridos e dois foram mortos
pela polícia. Um foi Benedito Frazão Dutra, que morreu no hospital, o outro foi
Edson, que levou um tiro covarde no peito à queima-roupa de uma arma calibre
45.

No dia do enterro, 50
mil pessoas saíram às ruas para protestar contra a repressão do regime militar.
A palavra de ordem que se espalhou em faixas, cartazes e na boca dos manifestantes
era "Mataram um estudante. Podia ser seu filho!". Os militares, sem
condições de reprimir a manifestação, tentaram escondê-la. As luzes da cidade
não foram acesas naquele fim de tarde, mas mesmo assim os motoristas acendiam
os faróis dos carros, comerciantes davam velas e lanternas para a população
continuar o cortejo.
A camisa manchada com o sangue de Edson
tornou-se o símbolo da repressão e foi carregada pelos estudantes.
Na semana que separou
o enterro da missa de sétimo dia de Edson, manifestações foram organizadas em
todo o país. Em São Paulo, quatro mil estudantes fizeram uma manifestação na
Faculdade de Medicina da USP. Em Goiás e no Distrito Federal, estudantes foram
baleados em protestos, sendo que dois foram mortos.
Na missa, que aconteceu na manhã do dia
4 de abril na Igreja da Candelária, as pessoas que lotaram a igreja foram
reprimidas com violência pela cavalaria da polícia com golpes de sabre quando
saíam. Dezenas de pessoas ficaram feridas. Outra missa estava marcada para o
mesmo dia à noite. O governo proibiu sua realização, mas mesmo assim
insistiu-se em fazê-la pelo vigário-geral do Rio de Janeiro, D. Castro Pinto.
A morte de Edson Luís foi um dos
marcos da radicalização da luta contra os militares que tomou conta do
ano de 1968. Em junho, ocorreu a passeata dos cem mil no Rio de Janeiro, que
lotou o centro da cidade.
As mobilizações
contra o regime militar foram tomando proporções cada vez mais radicais, assim
como a repressão foi se intensificando. Até que, em 13 de dezembro, foi
decretado o Ato Institucional no 5
(AI-5), endurecendo o regime, como única maneira de controlar a situação.
O ano de 1968 foi revolucionário no
mundo todo, marcado pelas revoltas estudantis e da luta contra a ditadura
apoiada pelos EUA no Brasil e nos outros países da América Latina. As burguesias
latino-americanas, financiadas pelo imperialismo, lançaram mão de ditaduras com
características fascistas para reprimir e esmagar as mobilizações estudantis e
operárias que se multiplicavam.
Redação: ALINE SÂMIA E CLEITON COSTA .
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