sexta-feira, 4 de maio de 2012

Trânsito é o castigo das grandes cidades

O cidadão que mora na capital paraense pode levar mais de duas horas para chegar ao seu local de trabalho. O crescimento urbano em Belém, considerado desordenado e caótico por especialistas, tem proporcionado momentos de sufoco, estresse e tensão em pelo menos 170 mil habitantes, que levam de uma a mais de duas horas neste deslocamento.

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ratificam os visíveis problemas no trânsito em horários de pico. “Belém não é uma cidade muito grande em suas dimensões territoriais, se comparada a outras grandes metrópoles. Mas em alguns destes lugares, mesmo com proporções maiores, o deslocamento acontece mais intensa e rapidamente. O principal problema é a nossa geografia. Nossa cidade é uma península, onde a maioria dos serviços, públicos ou privados, é ofertada na região mais afunilada, ou seja, o centro”, explica o engenheiro civil e rodoviário Noé Farias, coordenador da Câmara de Engenharia Civil do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-PA).

Em Belém, o número de pessoas com alguma ocupação fora de seu domicílio durante a semana, utilizado como referência para os estudos do IBGE, é de 424.099. Destes, apenas 37.494 levam até cinco minutos para se deslocar até seus locais de trabalho. A assistente administrativa Shirley Costa, 24 anos, faz parte do grupo que gasta em média três horas por dia dentro de um ônibus, considerando a ida e a volta do trabalho. “É um tempo perdido, que não pode ser recuperado, isso entristece qualquer um”, desabafa.

Shirley é casada, tem dois filhos e lamenta não ter tempo para levá-los à escola ou acompanhar suas atividades diárias: “Eles passam mais tempo com a minha irmã do que comigo. Confesso que, aos finais de semana, quando estou de folga, quero mais é dormir, penso duas vezes em sair com eles, só de pensar nos transtornos que passo dentro de um ônibus”, admite.

Ela mora em Ananindeua, no bairro do Maguari, região metropolitana de Belém, e trabalha no bairro de São Brás, mas enfatiza que o problema maior do trajeto está no Entroncamento, próximo à avenida Almirante Barroso. “É olhando para aquela ‘paisagem’ que passo alguns minutos do meu dia”, ironiza.

No início da manhã, cansada e abatida, ela espera por longos períodos a condução, porém não pega a primeira que passa, prefere esperar por uma com menos gente. “Por isso acordo cinco horas da manhã todos os dias. Como sei que vai ser aquele estresse, prefiro pegar um ônibus que venha, no mínimo, com um lugar para sentar. Às vezes, fico irritada o dia todo por isso”, dispara. A irritação apresentada pela jovem é comumente encontrada na clínica do psicólogo Davi Medeiros, 44 anos, que constantemente atende pacientes com alto grau de estresse e tensão. Entre os motivos está o trânsito.

“Existem alguns exercícios que podem evitar momentos desagradáveis. Seria bom utilizar esse tempo para fazer algo mais produtivo. Sempre que possível, é bom ler um livro, ouvir música, isso tudo ajuda na hora de tornar o trajeto para casa mais agradável”, orienta o psicólogo.

Segundo ele, o modo como agimos pela manhã influencia diretamente em como será encarado o restante do dia.
Fonte: Diário do Pará

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