domingo, 21 de março de 2010

A Besta da Guerra. Por Pedro Guerreiro

“Por mais silenciada e desvirtuada que seja, a verdade é que os povos (sempre) resistem e lutam pela sua libertação. Só assim se poderão entender os repetidos esforços do imperialismo para impor a sua dominação e tutela colonial, através de todas as formas, incluindo a utilização da máquina de agressão que é a Nato”.

Tendo como objectivo o “desenvolvimento” de um “novo” conceito estratégico até ao final de 2010, a Nato concluiu, no final de Fevereiro, a dita fase de “reflexão”, iniciando a fase de “consulta” de cada um dos seus membros. Relativamente a Portugal, está anunciada a deslocação, em meados de Março, de elementos do grupo que está encarregue de apresentar uma proposta para o conceito estratégico desta organização político-militar de carácter agressivo, que agora se pretende com intervenção de âmbito global.

A este propósito é (in)digna de registo a intervenção do Secretário-geral da Nato proferida na recente “Conferência de Segurança de Munique”, onde explanou o que se ambiciona para o futuro da Nato.

Após ter, de uma penada, mandado às urtigas princípios fundamentais da Carta da ONU e do direito internacional – como a solução pacífica dos conflitos internacionais ou a não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados – ao postular que a “defesa territorial” dos países membros da Nato se inicia “fora das (suas) fronteiras”, o Secretário-geral da Nato enumera o que considera serem as novas “ameaças”, formuladas à “medida do freguês”, isto é, de forma a possibilitar a instrumentalização e a militarização de praticamente todas as esferas das relações internacionais (de que é exemplo a ajuda humanitária ou ao desenvolvimento, recorde-se o Haiti), a ingerência, a desestabilização e o intervencionismo militar, obviamente, em função dos interesses imperialistas dos EUA e das potências da União Europeia.

Nas intenções expostas pelo Secretário-geral da Nato, esta organização transformar-se-ia no “fórum de consulta ao nível mundial sobre questões de segurança”. A Nato seria a instituição para a “segurança” de um proclamado “sistema internacional”, que integraria outros “actores” como a ONU, a UE, o FMI, o Banco Mundial ou as Organizações Não Governamentais (ONG), cada um “nas suas respectivas posições” (política, económica, militar,…), mas cooperando entre si “para um mesmo fim” (aliás, apresenta-se a agressão ao Afeganistão como precursora desta “nova forma de fazer”). E, utilizando o “canto de sereia” para procurar esconder o “abraço do urso”, a Nato estende maliciosamente o convite à China e à Rússia – não falasse mais alto a gritante realidade e a verdade crua dos factos…

Isto é, a Nato assumiria o mundo como seu campo de actuação, diversificaria as suas missões e interviria sem limites a pretexto de todas as questões, instrumentalizando a ONU para branquear e facilitar a sua acção belicista (recorde-se a controversa e perigosa declaração comum assinada entre a Nato e o actual Secretário-geral da ONU, relativa à sua cooperação mútua).

Moral da história, a voragem capitalista, o imperialismo, com todo o seu cortejo de atrocidades, opressão e exploração, confronta-se (sempre) com as mais legítimas e elementares aspirações e necessidades da Humanidade, pois representa, tão só, a sua brutal negação para milhões e milhões de seres humanos.

Por mais silenciada e desvirtuada que seja, a verdade é que os povos (sempre) resistem e lutam pela sua libertação. Só assim se poderão entender os repetidos esforços do imperialismo para impor a sua dominação e tutela colonial, através de todas as formas, incluindo a utilização da máquina de agressão que é a Nato. Isto é, o militarismo e a guerra são apanágio do imperialismo, a paz é a luta dos povos.

* Pedro Guerreiro foi deputado no Parlamento Europeu na última legislatura


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