sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Os números da invasão chinesa no Brasil

Divulgada ontem, a Sondagem Especial China da Confederação Nacional da Indústria (CNI) é o primeiro levantamento abrangente sobre as implicações, para a economia brasileira, do mais relevante fenômeno econômico da atualidade: o avanço da China no comércio mundial.

Os dados são assustadores, ainda mais sabendo-se que refletem um processo em andamento, que tende a se agravar mais ainda no futuro.

Em geral, há dois estágios na competição comercial entre dois países. O primeiro, a disputa pelos mercados internacionais. O segundo, a disputa pelo mercado interno de um dos países.

São evidentes as desvantagens da produção brasileira frente à chinesa nos mercados internacionais. A China dispõe de oferta abundante de mão-de-obra, conseguiu acumular uma massa crítica excepcional de novas empresas, chinesas e estrangeiras, tem modelos de financiamento favoráveis, um mercado interno esplendoroso. Mas, principalmente, possui uma moeda desvalorizada que faz a diferença.

Nas últimas décadas o Brasil avançou em muitos pontos mas descuidou-se completamente das condições de competitividade da economia. O custo Brasil manteve-se incrivelmente elevado, agravado por taxas de juros desproporcionalmente altas e moeda apreciada. Com o real apreciado, os produtos brasileiros ficaram mais caros quando comparados aos de países competidores.

O problema, agora, é que a invasão chinesa se dá no mercado interno brasileiro.
De acordo com o levantamento da CNI:

- 52% das empresas exportadoras brasileiras competem com a China no mercado externo;
dessas, 67% perdendo clientes;

- a concorrência não se resume ao mercado externo: mais de 25% das empresas brasileiras já competem com chinesas no próprio mercado doméstico; dessas, 45% perderam participação de mercado, especialmente entre pequenas e médias empresas;
entre as pequenas, a perda de mercado afetou 49% das que concorrem com produtos chineses, contra 32% das grandes;

- em seis setores, pelo menos, metade das empresas já enfrenta concorrência chinesa no mercado interno: : Material eletrônico e de comunicação, Têxteis, Equipamentos hospitalares e de precisão, Indústrias diversas, Calçados e Máquinas e equipamentos;

- em quatro setores – Produtos de metal, Couros, Calçados e Têxteis – mais da metade das empresas perderam participação no mercado doméstico; no setor de couros, 31% das empresas informaram queda significativa na participação de mercado;

- 10% das grandes empresas brasileiras já possuem unidade de fabricação na China;

- 21% das empresas pesquisadas já importam matéria-prima da China; dessas, 32% pretendem aumentar as importações;

- 50% das empresas definiram estratégias para enfrentar produtos chineses, principalmente investimento em qualidade e design.

A invasão chinesa se dá em todos os níveis, produtos acabados, máquinas e equipamentos e matérias primas. Hoje em dia, 34% das empresas de grande porte importam matéria prima chinesa, especialmente componentes eletrônicos, de comunicação e farmacêuticos. Nesses três setores, mais de 60% das empresas importam insumos chineses e 30% delas pretendem ampliar as compras nos próximos seis meses.

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