quarta-feira, 18 de maio de 2011

Agricultores familiares cobram defesa de seus interesses no novo Código Florestal

Em protesto em frente ao Congresso Nacional, Grito da Terra reivindica votação que alivie restrições ambientais. Para a Contag, organizadora do ato, debate centrado no interesse dos grandes ruralistas esconde a necessidade de sobrevivência do agricultor familiar. 'Se tiver de reflorestar minha roça, o que é que eu vou fazer para manter minha família, meus quatro filho?', diz manifestante. Segundo IBGE, um quarto da população rural vive na miséria.

Denivam Alves de Souza, de 49 anos, percorreu 1,3 mil km de Verdelândia, cidade de 8,3 mil habitantes do Vale do Jequitinhonha (MG), até Brasília, para estar em frente ao Congresso Nacional na tarde desta terça-feira (17/05). Ele participa do Grito da Terra que a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) realiza há 17 anos para pressionar governo e parlamentares a adotarem políticas favoráveis ao pequeno produtor rural. “Se não viéssemos aqui, ninguém nos ouviria. Só tem os grandes fazendeiros aí dentro”, diz Denivam.

Para agricultores familiares como Denivam, o peso da bancada ruralista, que elegeu um de cada quatro congressistas, está atrapalhando um dos debates mais polêmicos dos últimos tempos: mudar ou não o Código Florestal. Eleita como uma das prioridades do Grito 2011, a votação provocou, na visão da Contag, uma polarização entre ruralistas e ambientalistas que impediria a opinião pública de enxergar com clareza que gente comum - e pobre - também depende da votação. “Quem conhece a realidade do agricultor familiar não fica achando que a gente é desmatador, a gente quer é sobreviver”, disse Nelson Faustino Neto, dirigente da Contag em Cafezal do Sul (PR).

Esse é o argumento principal do segmento familiar, ao reivindicar um Código com menos restrições ambientais. Se as regras atuais significam que fazendeiro que desmata pagará multa, e com isso ele pode desistir da agropecuária e viver de lucro que junta há anos, para o agricultor familiar, que come o que planta, representam uma ameaça à subsistência.

Há cerca de 12 milhões de pessoas dependentes da agricultura familiar no país, segundo censo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2006, apenas sobre o campo. É três vezes mais do que o número de trabalhadores empregados pela agricultura comercial. Das cinco milhões de propriedades rurais identificadas pelo censo, 85% eram familiares.

Segundo o presidente da Contag, Alberto Brochi, a entidade defende que haja “adequações do Código” para atender às “especificidades da agricultura familiar” e não aos “ruralistas que desmataram a Amazônia”.

Além da votação do Código, o Grito da Terra reivindica R$ 1 bilhão para reforma agrária em 2011, ampliação dos recursos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), pelo qual o governo compra produtos dos pequenos produtores, e mudança na Constituição para punir fazendeiro que tem trabalho escravo. A mobilização termina nesta quarta-feira (18/05). (André Barrocal- Carta Maior)

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